21/10/2016

A safra 2016/17, a produção na China e no Brasil

As notícias chegam de toda a região do Mediterrâneo, o ataque da mosca da oliveira em distintas regiões da Itália e da Algéria, o longo período de seca em várias partes da Andaluzia, a colheita na Cisjordânia em meio às festas judaicas, quando o aumento de tensão e conflitos causam perdas tanto para colonos judeus como palestinos.   A produção do azeite no hemisfério norte teve início no mês de setembro e, embora o Conselho Oleícola Internacional tenha divulgado uma estimativa de pequena redução da safra em curso, as incertezas são inúmeras e as especulações idem.

Paralelamente a esses acontecimentos, alguns já corriqueiros, há uma série de interessantes fatos na olivicultura mundial, que evidenciam grandes investimentos para o necessário aumento da produção em novas áreas produtoras, cujos paralelos e longitudes estão muito distantes dos tradicionais.  Dentre essas áreas, cito a China e o Brasil, cujo volume de consumo e produção estão influenciando cada mais esse importante mercado.

Da China, em boletim do Conselho Oleícola Internacional (www.internationaloliveoil.org), noticia-se o espantoso crescimento da área do cultivo da oliveira em 14.000 ha ao ano, chegando atualmente a 86.000 ha cultivados, dos quais 27% já entraram em produção.  O desenvolvimento da indústria oleícola tem cumprido um importante papel socioambiental naquele país, onde 3.200 famílias vivem atualmente desta economia, que tem recuperado as bacias de dois importantes rios que percorrem as regiões de Gansu, Shannxi e Sichuan.  O volume produzido na campanha de 2015/16 chegou a 5.000 toneladas, 75% superior à campanha anterior e o volume de importação evoluiu de 4.000 toneladas em 2004/05 para 43.000 em 2013/14 e uma pequena redução no ano seguinte.

No Brasil, segundo site da Secretaria Estadual de Agricultura do Rio Grande do Sul (www.agricultura.rs.gov.br) e da EPAMIG (https://epamig.wordpress.com/2016/02/12/comeca-extracao-de-azeite-de-qualidade-nos-contrafortes-da-mantiqueira/), estima-se uma área de cultivo atual em cerca de 4.000 ha, sendo 1.700 ha no Rio Grande do Sul, 1.500 ha entre Minas Gerais e São Paulo e as demais áreas nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia.  Não há dados específicos sobre o crescimento da área de plantio anualmente no país, mas os números mostram um vertiginoso crescimento da produção, fazendo com que os escassos litros registrados como marco da primeira  extração em fevereiro de 2008 na cidade mineira de Maria da Fé,  já estejam muito atrás das 53 toneladas na safra de 2016 e da estimativa de 100 toneladas para 2017. Soma-se a isso, o crescimento da importação de azeite no país entre 2004/5 e 2013/14, quando passamos de 0,15 litro per capita anual para 0,40 litro, com 80.000 toneladas de volume importado naquele ano agrícola.  A drástica redução de 33% na importação do ano 2015/16, foi um fato que surpreendeu a todos, tem influenciado a oscilação do preço no mercado internacional, mas está sendo considerado um ponto fora da curva, não uma tendência, mantendo o Brasil entre os cinco maiores importadores do azeite do mundo.

Do Mediterrâneo, temos o panorama com as variáveis que influenciam preços e mercado, de dois importantes e grandes países chegam as notícias de que a produção de ambos aponta sua seta para o alto, enquanto o consumo depende de mudanças culturais e econômicas que ditam a oscilação.  
Para as crises econômicas, não há muitos remédios, que não a ortodoxia capitalista reinante, mas para as mudanças culturais temos a certeza de que a transmissão do conhecimento sobre a qualidade e os benefícios desse alimento são essenciais para sua valorização.   Como azeitólogo e professor,  observo em minhas aulas e palestras que os mitos criados pela indústria do óleo vegetal refinado e hidrogenado estão muito bem enraizados, mas não possuem fundamentos acadêmicos e serão derrubados com tempo e paciência.  Não está em jogo nenhum modismo, mas a disseminação do conhecimento sobre um alimento funcional importante, cuja produção sustentável recupera ambientes naturais e traz consigo uma cultura milenar, na qual o Brasil recentemente se inseriu, e vem se tornando importante protagonista.  É hora de colher e por isso insisto: #azeitarépreciso 

A colheita na Cisjordânia

 O crescente mercado chinês

 A colheita no sul do Brasil