26/07/2017

Azeites de oliva, novos mercados e os desafios de produção x consumo

Segundo dados recentemente divulgados em boletim do Conselho Oleícola Internacional, a produção mundial estimada de azeite de oliva no ano agrícola 2016/17 será de 2,713 milhões de toneladas contra um consumo de 2,940 milhões, consolidando um déficit de 13% para atender a demanda pelo produto.

Desde a divulgação desses números nas redes sociais e em blogs especializados, muitas pessoas tem me perguntado como isso é possível e de que forma essa matemática é resolvida.

Como qualquer outra commodity que integra a bolsa de alimentos no mundo, a regulação de seus estoques ditam os preços, que em consequência desse desequilíbrio tendem a subir.  Como esta curva ascendente não é bom negócio para ninguém, pois o principal parâmetro para a escolha de um azeite ainda é o seu custo, faz-se necessário e urgente o aumento da produção, uma vez que novos mercados, como Brasil, EUA, China, Japão e Rússia têm demandas e potenciais crescentes.

Dentre todas as gorduras vegetais produzidas no mundo, o azeite de oliva corresponde a apenas 2%, enquanto que o óleo de palma (dendê) e óleo de soja sozinhos somam 65% do total.   Enquanto a cultura de sementes oleaginosas tem produção dinâmica e extrativista, com colheita certa e rápidos resultados, a olivicultura, após início do primeiro cultivo, leva no mínimo 4 anos para a colheita e mais de 10 anos para o retorno inicial de investimentos.  A primeira é predadora do meio ambiente, esgotando o solo onde são cultivadas, enquanto a segunda tem colaborado com a recuperação de flora e fauna em diferentes lugares do mundo.  A primeira produz lucros exorbitantes, concentração de renda, detém poder sobre a agricultura de nações e estados, enquanto a segunda, incomparavelmente menos lucrativa, é partilhada entre pequenos produtores, diz respeito a uma cultura ancestral e milenar que tem raízes na história de nossa civilização.  E, finalmente, a primeira produz óleos refinados saturados, mono ou polinsaturados com composições químicas secundárias pobres, enquanto a segunda produz azeites virgens ou refinados, majoritariamente monoinsaturados, cuja composição secundária é tão rica nutricionalmente, que tem sido considerado um dos mais importantes alimentos funcionais à nossa disposição.

Dito isso, devemos nos conscientizar da enorme importância de nossas escolhas alimentares, cujo âmbito de alcance, para além do econômico, chega a esferas político e ambientais, o que torna evidente que em um mundo voraz por ganhos rápidos e com poucos escrúpulos, não se pode deixar nas mãos da indústria alimentícia as informações necessárias para obter critérios e discernimento.  A matemática é simples: se o consumo é maior que a produção e o preço precisa ser contido, a multiplicação milagrosa se difunde e isso quer dizer FRAUDE!  Não é de hoje, se origina na Antiguidade, mas azeite de oliva é o alimento mais fraudado em toda a história da humanidade e para não sermos vítimas da pouca ética que viceja no comércio alimentar, precisamos unicamente conhecer os parâmetros que caracterizam suas qualidades e defeitos.

Em se falando do necessário aumento da produção do azeite, tomemos alguns países como exemplo, iniciando pelo Uruguai. Esse pequeno país fronteiriço ao sul do Brasil teve sua área de plantio de oliveiras aumentada em 1000% nos últimos dez anos e a produção saltou de 500 toneladas em 2010 para 6.000 toneladas em 2017.   A China, segundo dados do COI, tem aumentado a área de cultivo em cerca de 4.500 ha/ano, estimando-se hoje 86.000 ha cultivados, onde aproximadamente 30% está em produção, alcançando 5.000 toneladas de azeite, o que já supre 15% de seu consumo anual ainda muito baixo, porém de explosivo potencial.  Prevê-se que, em dez anos, esse gigante asiático será o segundo maior produtor de azeites do mundo.  EUA, importante importador mundial, produzem 15.000 toneladas/ano, o que corresponde a 5% de seu mercado e têm realizado constantes investimentos em plantio.   O Brasil, embora com menos ambição, não está fora desta curva e no ano de 2017 obteve sua produção recorde, ainda que tímida, de 100 toneladas de azeite, equivalente a menos de 0,1% do volume importado, mas teve seu consumo interno multiplicado nos últimos sete anos, sendo hoje o quarto maior mercado mundial com enorme potencial de crescimento.  Por fim, o  Paraguai é o mais novo e recente país a iniciar investimentos em olivicultura.

O fato é que é preciso estar atento!  Azeite de Oliva e Extra Virgem de Oliva configuram-se como as mais saudáveis entre todas as gorduras disponíveis para o consumo humano, cujos valores nutricionais e benefícios à saúde estão sendo exaustivamente estudados e divulgados.  Ainda que diferenciem-se entre eles em composição e consequentes benefícios, o azeite de oliva mesmo refinado é muito superior a qualquer outro óleo vegetal ou gordura animal e entre os extra virgens, no frescor de seus distintos sabores e aromas podemos reconhecer seus diferentes graus de saudabilidade.   Pela produção mais escassa e demorada, o custo de um bom azeite é elevado, sem dúvida, mas lembre-se, mudar o padrão de consumo, privilegiando gastos com a alimentação é um benefício de consequências duradouras, que eleva a qualidade de vida infinitamente mais que qualquer investimento feito em gadgets eletrônicos.  A escolha é de cada um!

Uruguay e China, produções representativas


O Brasil cresce

Preços oscilam